Desde agosto de 2013, o Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mais conhecido como Museu do Ipiranga, fechou suas portas para que ali dentro, uma tragédia maior não ocorresse. Felizmente, este museu teve tempo de ser fechado antes de um desabamento (e até mesmo de um incêndio). A mesma sorte não ocorreu com o Museu Nacional do RJ, como bem sabemos!
Muitos se comoveram com a destruição do Museu Nacional do RJ. Por causa disso, resolvemos fazer uma BC sobre os museus nacionais (no fim do post se encontram todos os participantes) para valorizarmos o que temos e incentivar a população a frequentá-los.
Eu decidi fazer algo um pouco diferente. Ao invés do incentivo à algum museu aberto, resolvi contar um pouco sobre o Museu Paulista ou Museu do Ipiranga, museu “gêmeo” do Museu Nacional, que por pouco não teve o mesmo fim.
Um pouco da história do Museu Paulista ou Museu do Ipiranga
Bom, o Museu Paulista da Universidade de São Paulo se encontra presente no Edifício-Monumento dentro do Parque da Independência, no bairro do Ipiranga.
O prédio foi construído no final do século 19 no local onde Dom Pedro proclamou a nossa independência. Sua construção teve como objetivo demarcar o lugar de proclamação da Independência do Brasil. Por isso, nunca foi residência real e em 1895, o Museu do Ipiranga foi criado como Museu de Ciências Naturais e ganha perfil de museu de História a partir da gestão de Affonso Taunay.
Desde 1963 está vinculado à Universidade de São Paulo, sendo não apenas um museu, mas uma instituição científica, cultural e educacional que exerce pesquisa, ensino e extensão no campo da História.
O Acervo do Museu do Ipiranga
O museu conta com um acervo de mais de 450 mil unidades, entre objetos, iconografia e documentação arquivística, do seiscentismo até meados do século XX, eixo para a compreensão da sociedade brasileira, a partir do estudo de aspectos materiais da cultura, com especial concentração na História de São Paulo.
Em função de objetivos institucionais, os acervos têm sido mobilizados para a análise de problemáticas pertinentes às três linhas de pesquisa a que o Museu se dedica: Cotidiano e Sociedade; Universo do Trabalho; História do Imaginário. Objetos e iconografia, além dos documentos textuais, são utilizados como fontes de informações que abrem novas perspectivas para as pesquisas na área de História Social, no campo da Cultura Material.
(fonte: site do museu)
O fechamento do museu do Ipiranga
Depois de um breve resumo sobre o Museu Paulista da USP, vejamos então o que ocorreu e como ele se encontra atualmente. O que escrevi abaixo é, de certa forma, uma interpretação minha em relação à todos os textos de jornal que li sobre o fechamento.
O museu fechou oficialmente em agosto de 2013, mas pedidos de fechamento eram feitos desde o início do ano 2000 por causa da precariedade do prédio.
A sorte do Museu do Ipiranga foi ter na época como diretora a arquiteta e urbanista, Sheila Walbe Ornstein, professora titular da FAU – USP.
Ela entendia o que estava acontecendo com a estrutura do prédio e via a necessidade de uma reforma geral e não de uma das famosas “reforma de fachada”.
Com um laudo na mão, teve a coragem de fechá-lo mesmo quando muitos achavam que não seria necessário. Ninguém quer museu fechado, né?
Para ter uma dimensão do problema que sofria o Museu Paulista, era comum vazamento e infiltração em seu interno. Me lembro de uma colega contando que teve que sair do museu durante uma exposição, pois os administradores tiveram que fechar correndo o prédio. Motivo: forte vazamento de água na parte interna por causa da chuva. E imagino que naquela ocasião, todos os funcionários provavelmente correram para salvar o acervo da chuva.
Imaginem o grau do problema!
Em quase todos as fontes que li, percebi que infiltração e vazamento de água era constante no prédio. Diversos textos de jornal relatam falhas na estrutura, como certas rachaduras visíveis, paredes mofadas, pedaços da fachada prestes a desabar, tintas descascadas, mas o mais sério foi o desprendimento do forro do teto de duas salas da torre (com o pé direito altíssimo).
Foi justamente este último caso o motivo do fechamento do Museu do Ipiranga. Em um primeiro momento, interditaram as duas salas da torre e chamaram arquitetos para fazer o diagnóstico da estrutura do prédio.
Quando o laudo saiu, relatando que o teto daquele prédio (praticamente 40 toneladas) poderia desabar em cima do público e funcionários a qualquer momento, a diretora decidiu fechar o museu imediatamente e definitivamente, forçando aquilo que vinha sendo pedido a muito tempo: uma boa reforma e modernização do prédio.
A transferência do acervo do Museu do Ipiranga
Vou usar a frase de uma amiga: Museu fechado não faz sentido, mas se não fechar, não tem como reformar. E foi essa a decisão tomada!
O museu do Ipiranga foi fechado às pressas para que um dano maior e fatal não ocorresse, mas por ter sido de última hora, imagino que a diretoria não tinha nenhum plano.
Li muitas críticas negativas na internet por causa do fechamento. Boa parte da reclamação tinha a ver com a falta de informação ao público. Demoraram para divulgar uma data de reabertura e, sem muita informação vinda de dentro, ficava difícil saber se a demora tinha a ver com a gravidade do problema estrutural do prédio ou da falta de verba/interesse do poder público.
Acho que tem uma boa pitada dos dois fatores. Para nós, divulgaram a data de 2022, bicentenário independência do Brasil, para reabertura. Basta saber se será cumprido!
Mas por que tanta demora?
Tenho certeza que qualquer leigo, ao descobrir que um museu público fecharia suas portas por 9 anos, iria colocar culpa no governo. No caso do Museu Paulista, acrescentar à culpa à universidade. E tem toda a razão! 9 anos é muito tempo sim!
Uma reportagem da Folha (aqui), reclamava que após 4 anos de fechamento, nada fora feito. Essa era a chamada do texto. Um outro texto, do G1 (aqui), escrito após o incêndio do Museu Nacional, aparece com um tom menos crítico, elucidando melhor a questão atual do museu.
Bom, eu não sei exatamente a causa de toda demora, mas posso imaginar um pouco. Obviamente que funcionários não ficaram parados durante estes 5 anos. Se o laudo afirmava que o teto poderia cair a qualquer momento, qualquer um é capaz de entender que não se podia retirar tudo de uma única vez. A mudança não podia ser imediata e muito menos de qualquer modo, sem uma equipe preparada.
No fim das contas, eram obras de grande valor, documentos e objetos históricos que não podiam ser danificados durante a mudança e ainda havia o perigo de desabamento.
Com isso, a equipe precisaria montar uma logística de retirada, em conjunto com a busca para novas moradas do acervo. O ideal era alugar casas nas proximidades, para que o custo com transporte não ficasse alto demais. Para isso, precisaram estruturar essas casas para receber o acervo.
As primeiras partes do acervo transferidas
Não sei depois de quanto tempo o museu conseguiu verba para começar a primeira parte da mudança, mas escolheram transferir a biblioteca, que hoje se encontra aberta na Rua Bom Pastor, 731.
Depois da biblioteca, foi a vez do Centro de Documentação Histórica e Iconografia, presente na Rua Xavier Curado, 25 também aberta ao público.
Após a retirada do acervo bidimensional, começou o acervo das obras tridimensionais. Pelo o que entendi, esta parte ainda não foi finalizada e algumas obras, como o famoso quadro de Pedro Américo, ficará no museu, protegido durante a reforma. Sua retirada poderia causar grandes danos.
Onde podemos encontrar o acervo do Museu do Ipiranga hoje?
Uma das criticas ao fechamento do museu era o fato do acervo não se encontrar online. O fechamento foi a oportunidade de disponibilizar boa parte do material na internet e hoje podemos encontrar uma boa quantidade do acervo do Museu do Ipiranga online.
Um dos locais é dentro do projeto Google Arts. Você poderá principalmente navegar pela história do quadro mais famoso do Museu, o Independência ou Morte, de Pedro Américo de Figueiredo e Mello.
No total, são 1.011 itens digitalizado e catalogado dentro do Google Arts, dispostos nesta categoria.
A Wikicommons fez um serviço parecido, digitalizando algumas obras de arte e inserindo em sua página. Ali também há fotos internas e externas do prédio.
Obras para ser vista pessoalmente
Com o fechamento do museu, uma das alternativas foi criar parcerias com outras instituições, para criar exposições com suas obras. Uma forma inteligente de manter o acervo em circulação, dentro de locais apropriados para condicionar determinadas obras.
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Pinacoteca
A primeira instituição a receber obras do Museu Paulista foi a Pinacoteca de São Paulo. Lá, ficaram expostas cerca de 50 obras, entre pinturas, desenhos, fotografias e objetos, assinadas por artistas como Antônio Parreiras, Benedito Calixto, Adrien van Emelen, Oscar Pereira da Silva, João Baptista da Costa, Antônio Ferrigno, Henrique Bernardelli, Rodolfo Amoedo entre outros. A exposição ficou até 2017.
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Palácio do Governo
Para quem quer apreciar agora, em 2018, parte do acervo, se encontra no Palácio do Governo, no bairro do Morumbi.
A exposição “Arte e História nas coleções públicas paulistas” contém mais de 100 peças de valor histórico e cultural como uma carruagem do final do século XIX, telas de Benedito Calixto e Antonio Ferrigno, móveis das elites paulistas e uma coleção de ferros de passar roupas, entre outras dezenas de peças.
A exposição está aberta de terça-feira a domingo, das 10h às 17h (último ingresso às 16h) e vai até até o dia 20 de janeiro de 2019. Entrada Franca.
Museu Paulista ou Museu do Ipiranga
Parque da Independência – Ipiranga
Fechado.
www.mp.usp.br
/museupaulista/
Foto principal do post feita por Mike Peel via WikiCommons.
Participaram desta blogagem:
Mapeando Mundo – Museu da Amazônia & Torre de Observação; Destinos por onde andei… – Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, vale a pena conhecer; Ligado em Viagem – Visitando o MASP, Museu de Arte de São Paulo, e a Exposição Histórias Afro-atlânticas; Vamos Por Aí – Museu do Catetinho em Brasília; Mariana Viaja – Museus no Brasil: 15 opções históricas e culturais que valem uma visita; Fui ser viajante – 10 museus de Recife que você precisa conhecer; Tá indo pra onde? – Visitando o Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro; Diário de Turista – Museu Histórico Abílio Barreto em Belo Horizonte (MG); Vaneza com Z – Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – reflexão sobre o abandono; Uma Viagem Diferente – MAC Niterói, Visitando o Museu de Arte Contemporânea; Let’s Fly Away – MAC Niterói, o lindo Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Cantinho de Ná – Museu do Estado de Pernambuco: tradição e história; Entre Polos – Museu Nacional de Belas Artes – Rio de Janeiro; Maquiadora Viajante – Museu do Amanhã no Rio de Janeiro e a importância dos museus nas cidades; Vem que te Conto! – Museu Histórico de Campos dos Goytacazes; Expressinha – Museu da Imigração ou Memorial do Imigrante – Uma Visita Inesquecível pela História e pela Moóca; Embarque40mais – Dica de Museu SP: MIS Campinas leva à viagem no tempo; Itinerário de Viagem – NAC USO – Museu de Arte Contemporânea de SP
Acho tão triste esse museu estar fechado há tanto tempo. Toda vez que vou à São Paulo, dou uma olhada para ver se a obra já terminou. Bom, pelo menos o acervo está seguro né?!
Ainda nao totalmente, Ana! Ainda tem obras ali dentro, mas espero que a estrutura nao esteja mais em perigo!
Parece aquele ditado: brasileiro só fecha a dorta depois que é roubado.
Ainda bem que a diretora foi uma pessoa de coragem e determinação e daí me pergunto: será que nos falta diretores/administradores de ação, determinação e coragem para evitar que o pior ocorra?
A população se distrai e não se importa, os orgãos públicos piorou.
Excelente post!
Talvez faltem sim diretores/administradores com mais coragem para tomar certas atitudes!
Muito triste um museu desse porte fechado, mas mais triste ainda seria perdermos todo o acervo.
Espero que consigam realmente restaurá-lo pois os custos são altíssimos! Adoraria vê-lo reinaugurado em 2022.
:*
eu também!
😉
Adoro museus, queria muito ter visitado o museu Nacional, mas infelizmente aconteceu essa tragédia. Sempre coloco na lista de asseios pelo menos 1 museu quando viajo para diversos destinos tanto no Brasil quanto lá fora.
Sim! Eu também!
Mas meu texto é sobre o Museu Paulista
rsrsrs
Importante a preocupação com museus antes e não depois da perda de tanta preciosidades: chorar, abraçar o museu não traz de volta a história viva que foi perdida, temos que abraçar o Museu Paulista
agora, pra que nossos governantes saibam que estamos de olho na data pra abertura ao público.
Nb.:linda foto da barriga com Léo feita na frente do Museu Paulista ou Museu do Ipiranga
Tem um monte de fotos lindas do Léo por ali!
😉