Berlim, palco de duas guerras recentes, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, manteve suas cicatrizes, suas marcas da guerra na arquitetura atual com um simples objetivo: “Lembrar para não repetir“.
Neste post selecionei tudo o que encontrei por lá nos 6 meses que estive na capital alemã. Prepare sua pipoca: o post é longo!
Berlim é uma cidade fascinante, moderna, com inúmeros atrativos e belezas, mas o que atrai a curiosidade de quem a visita são as marcas da guerra, as cicatrizes que a 2° Guerra Mundial e a Guerra Fria deixaram na cidade e não é por menos: o primeiro evento a destruiu e o segundo a dividiu.
Hoje, após quase 80 anos do término da guerra que destruiu a cidade, vemos uma Berlim muito bem reconstruída e organizada urbanisticamente, mas uma coisa eles fizeram questão: por mais vergonhoso que seja, mantiveram marcas das duas guerras para que nunca esqueçamos o que aconteceu e, com a lembrança, nunca deixar esse passado repugnante se repetir.
As marcas da Segunda Guerra em Berlim
O Reichstag, prédio do parlamento alemão.
Foto de: 5 Army Film & Photographic Unit e “©Ziutograf via Canva.com”
Vou começar com o Reichstag, local onde, em 9 de novembro de 1918, foi proclamada a “República Alemã” (posteriormente chamada República de Weimar) e que, em 1933, um mês após a extrema-direita chegar ao poder, sofreu um incêndio e foi quase danificado por completo. A partir desse momento, os extremistas de direita (nazistas), usaram esse incidente para suspender a maioria dos direitos básicos garantidos pela Constituição de 1919. Davam-se os primeiros indícios da guerra que iria iniciar em 1939.
O prédio se manteve destruído e sua restauração, como está hoje, só se deu início em 1995, após o fim da guerra fria e reinaugurado em 1999. Motivo: o prédio se encontra na zona pertencente à Inglaterra e que depois passou a fazer parte dos EUA. Durante a guerra fria, a capital da Alemanha era Bonn. Não fazia sentido ter um parlamento aqui.
Uma visita a esse prédio vale muito a pena, inclusive para ver a marca da guerra que os russos deixaram lá dentro, mas exige reserva antecipada (é grátis – veja como). Aconselho uma visita guiada ao prédio, mas se não tiver vaga, suba até a cúpula de vidro e aprecie a bela Berlim!
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Buracos pelos edifícios: principal marca da guerra que está em todo canto
Ao caminhar pelo Mitte, bairro central berlinense, é possível ver, na parede de vários prédios, marcas de metralhadora, estilhaços de balas e até marcas de canhões sobre suas paredes. Em algumas ruas é possível até mesmo ver marcas de tanques de guerra pela parede. Como são muitos prédios por toda cidade, decidi me concentrar em um trecho do Mitte, onde me hospedei desta última vez, nas proximidades da Ilha dos Museus.
As marcas da guerra nos Museus da Ilha, em particular, no Neues
Você não precisa entrar nos museus para ver essas cicatrizes. Elas estão pelas paredes e colunas dos museus que se encontram mais perto da Lustgarten. Olhar para as paredes externas desses prédios também te dará a dimensão da destruição, visto que eles mantiveram o que estava destruído e “remendaram” o que havia sido destruído.
Mas se puder, entre pelo menos no Neues Museum (Museu novo), não apenas para apreciar as obras presentes (destaque para o busto da rainha Nefertiti e o Chapéu Dourado), mas para ver a restauração feita para cada sala. De todos os museus da ilha, este é o único que, em seu audioguia, ouvimos descrições sobre cada sala, o que tinha antes da guerra e o trabalho de restauração. Além, claro, das várias marcas de balas visíveis na parede do átrio central.
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As marcas da guerra nas ruas e nos edifícios da Universidade Humboldt
Saindo da ilha, siga sentido rua Am Kupfergraben e veja o prédio da faculdade de Economia da Humboldt que se encontra na esquina da Dorotheenstraße. São muitas as marcas de balas, alguns buracos são imensos.
Mais marcas da guerra veremos mais a frente, nos paredões que suportam a linha de trem elevada. Provavelmente onde hoje são restaurantes, eram onde os alemães se escondiam para atacar o inimigo. Peguem apenas um trecho da Georgenstraße sentido Friedrichstraße e vocês entenderão o que estou escrevendo aqui.
E já que estamos por essa zona, vou contar uma historinha e mostrar um lugar “secreto”: nessa nossa última estada, ficamos no “Gästehaus” da Humboldt Universität e sempre que caminhava com meu filho pela rua, contava um pouco da história da cidade e, se tinha alguma “cicatriz” da guerra, eu o mostrava e explicava.
Certa vez, entrando no prédio, meu filho olha uma das paredes e me pergunta: “Mãe, isso também são balas, né?” Me espantei nunca ter prestado atenção naquela parede e, ao entrar em casa, a mostrei para o Thiago, que foi mais cirúrgico: “Deve ser, mas veja que tudo está concentrado a uma altura de 1,50m. Isso deve ter sido paredão de fuzilamento, provavelmente de estudantes.” E confesso: cada vez que eu abria a janela do quarto e olhava aquela parede, meu coração gelava.
Essa residência está perto do bairro judeu e na rua Große Hamburger, também é possível ver muitas marcas de balas pela parede (principalmente na Sophienkirche – foto da capa deste post). Enfim, são muitos lugares que talvez valesse um post inteiro.
E falando em local para ficar, que tal dar uma olhada nessas opçoes que nosso parceiro, Booking, oferece?
As marcas do Holocausto
Não tem como falar de 2° guerra e ficar quieto com o que o nazismo fez aos judeus de toda Europa e Berlim manteve isso um pouco vivo. Talvez haja criticas entre os judeus, mas nas calçadas, em frente à porta da casa de algum judeu morto durante o holocausto, você verá plaquinhas quadradas de metal com nome de quem ali morava. Mais isso ainda é pouco: há memoriais e museus por toda Berlim.
Memorial aos judeus europeus mortos
Um dos memoriais, o mais visitado, se encontra ao lado da embaixada americana, em uma região muito devastada durante essas guerras. É um quarteirão inteiro, que parece ser uma selva de blocos de concretos irregulares. O próprio quarteirão é irregular, com subidas e descidas. Às vezes os blocos parecem baixos, outros são altos e caminhar ali dá uma sensação de incômodo. Nas redes sociais, esse local se tornou polêmico, ao mostrar pessoas se divertindo em seus blocos. Para ir contrário a isso, algumas pessoas fizeram selfies com cara triste. Eu confesso que não me senti capaz de fazer uma foto com meu rosto aqui. É um lugar muito triste para me ver ali em um futuro.
Foto de: “©Lunamarina via Canva.com”
Mas existem outros memoriais importantes e que se encontram distantes e que valem a pena uma visita. Eu tive a sorte de conhecer esses dois locais que indicarei abaixo graças ao orientador do Thi, professor da Freie Universität, que nos levou até lá de carro, mas é possível visitá-los com meios de transporte.
Memorial da Plataforma 17 (Mahnmal Gleis 17)
Não havia dentro de Berlim nenhum campo de concentração. O mais próximo era o Sachsenhausen em Oranienburg e, para quem lembra um pouco das aulas de história, os judeus foram transportados em trens e, para isso, tinham que ser levados às estações. No Mitte é possível ver a fachada de uma dessas estações (Anhalter Bahnhof), mas o memorial foi feito em uma estação mais distante, caminho de quem vai para a cidade de Potsdam, em Grunewald (S-Bahn S3, S5 e S7).
É uma plataforma abandonada propositadamente, com muitas grades de ferro no chão indicando cada partida, com data, quantidade de judeus transportados e destino. Visitamos em um dia frio de inverno e tudo aquilo se tornou ainda mais doloroso.
Programe-se para visitar esse memorial no dia que estiver indo para Potsdam, mas desça na estação de Grunewald antes. Essa estação também aparecerá na minha Berlim da Guerra Fria!
Casa da “Conferência de Wannsee” (Haus der Wannsee-Konferenz)
Em 20 de Janeiro de 1942, membros do governo da Alemanha Nazi e líderes das SS, se reuniram nessa bela casa em Wannsee, de frente para o lago, e decidiram que os judeus europeus seriam reunidos e enviados para campos de extermínio, onde seriam executados. Nesse prédio podemos ver a cópia da minuta que sobreviveu à guerra (com tradução em inglês), encontrada pelos Aliados em 1947 e utilizada como evidência nos Processos de Guerra de Nuremberg.
Na ocasião, pensaram em demolir esse prédio, mas decidiu-se por mantê-lo como um memorial do Holocausto. Não é tão fácil chegar até aqui. A estação mais próxima é a Wannsee (S7), mas é preciso pegar um ônibus ou taxi para chegar até o local.
Casinhas “rurais” nazistas
Se você estiver de carro, que tal dar uma voltinha em um belo quarteirão residencial, com casas super fofinhas, mas que abrigavam familiares do Schutzstaffel (Esquadrão de Proteção), conhecido apenas como SS? Coloquem no Google Waldsiedlung Krumme Lanke e se estiver no caminho de vocês, deem ali uma volta no quarteirão!
A Resistência Alemã
É difícil imaginar que todos estavam contentes com a política nazista e, claro, havia muita resistência na Alemanha. Eu conheço mais a história da resistência italiana, os famosos partigiani (Oh Bella Ciao), mas dentro da Alemanha também havia seus resistentes (assista ao filme Operação Valquíria) e isso pode ser visto no Memorial para a Resistência Alemã (Gedenkstätte Deutscher Widerstand), quase ao lado da Gemäldegalerie. A entrada é gratuita.
Memorial aos mortos caído na guerra
Há 3 memoriais russos na cidade. Uma está bem perto do portão de Brandeburgo, outros dois estão mais distantes (um em Treptower Park, e o outro em Schönholzer Heide), mas venho aqui indicar o prédio da Nova Guarda (Neue Wache), na Unter den Linden. O prédio em si é bonito, mas ao entrarmos, encontramos um vazio, com apenas uma escultura de uma mãe abraçando seu filho morto. No teto, um buraco! Dessa forma, não importa se chove, neva ou faz sol, mãe e filho sofrerão as intempéries meteorológicas.
Foto de: “©Elnur via Canva.com”
Ruínas da Guerra em Berlim
Há muitas ruínas e a mais importante é o que sobrou, ali perto do Zoológico, da Igreja da Memória do Imperador Guilherme (Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche), na Kurfürstendamm (também chamada de Ku’damm). Esta igreja neogótica foi construída no final do século XIX e bombardeada em 1943. Daquela grande igreja, pouco sobrou, mas é possível entrar nela e aconselho: destaque para o mosaico no teto.
Outra igreja destruída na 2° guerra e mantida sua ruína é o Monastério Franciscano (Franziskaner-Klosterkirche) no centro da cidade, perto da Torre de TV. Diferentemente da anterior, essa não tem teto.
Foto de: “©Prill e ©Digitalsignal via Canva.com”
Outra ruína mantida em pleno Mitte é a da estação Anhalter Banhof, principal estação de Berlim antes da guerra e destruída por 2 bombardeamentos. Hoje podemos ver apenas a fachada de um prédio que era imenso. Dessa estação, muitos judeus conseguiram escapar da Alemanha em 33, mas muitos outros foram levados para campos de concentração. E bem perto dessa estação se encontrava a Gestapo, hoje totalmente em ruína (falarei sobre ele mais pra frente).
Foto de: “©Jule Berlin via Canva.com”
Bunkers em Berlim
E para terminar essa longa parte, precisamos falar dos bunkers, isso é, as estruturas fortificadas de proteção militar. Muitos desses bunkers eram subterrâneos e é possível visitá-los. No entanto, como levava tempo para construir um bunker subterrâneo, a Alemanha começou a criar essas fortalezas no nível das ruas. Essas fortalezas (chamadas de Flakturm – torre antiaérea) serviam como proteção da população e de militares em seu interno (as paredes tinham a grossura de 2 a 5 metros) e em seu topo, canhões antiaéreos.
De perto e praticamente intacto, vi um Flakturm apenas em Hamburgo (ao lado do estádio do St. Pauli), mas em Berlim existiam três. Um foi totalmente abatido (onde hoje é o Zoo – que durante a guerra protegeu o Altar de Pérgamo em seu interno) e outros dois eram tão resistentes que não rolou abatê-los totalmente; no Volkspark Friedrichshain, os escombros foram soterrados: é possível ver algumas partes, mas é no Volkspark Humboldthain que conseguiremos ver e até mesmo subir no topo de uma dessas Flakturm, um lugar privilegiado para ver o pôr do sol berlinense ou fazer uma visitação em seu interno.
Foto de: “©Marina113 via Canva.com”
As marcas da Guerra Fria em Berlim
A Alemanha perdeu a guerra em maio de 45, após invasão do “Exército Vermelho” e do suicídio de Hitler (a guerra mesmo iria acabar em setembro com a rendição do Japão, após as duas bombas atômicas caindo em Hiroshima e Nagasaki) e o país, assim como a cidade de Berlim, foram divididos entre os países vitoriosos (EUA, Inglaterra, França e União Soviética).
Com o fim da 2° guerra, inicia-se a disputa entre o Capitalismo (liderado pelos EUA) e o Comunismo (liderado pela URSS) e como oficialmente nessa guerra não houve bombas e tiroteios, foi-se chamada historicamente de Guerra Fria e Berlim acabou sendo palco dessa guerra. A primeira divisão (em 4 partes) se transformou em 2 partes (ocidental x oriental) e em pouco tempo, Berlim estava, literalmente, dividida por muros. Os famosos Muros de Berlim.
Ok, esse meu resumo é meio fajuto, recorri apenas a minha memória e não aos livros de história, mas para quem circula com um pouco mais de atenção por Berlim, acaba presenciando isso.
Foto de: “David Brauchi CC BY-NC-SA”
O portão de Brandeburgo
Se iniciei as marcas da 2° guerra com o Reichstag, decidi iniciar as marcas da guerra fria em Berlim com o vizinho Portão de Brandeburgo. Motivo: a foto símbolo da queda do muro ocorreu bem ali. O famoso discurso de Ronald Regan “Tear down this wall” em 1987 ocorreu bem ali e nessa zona encontramos marcas no chão por onde o muro esteve, cruzes brancas e placas de metal indicando o nome de quem tentou pular o muro e faleceu; além de grossos postes quadrados de metal indicando alguns combates. Enfim, só um passante muito desatento passaria por Berlim ignorando todos esses fatos (meu filho de 8 anos registrou tudo isso enquanto passava).
E bem, como falar de Berlim, de guerra fria e não falar dele, do Muro de Berlim?
A grande marca da guerra fria: o Muro de Berlim
Berlim começou a ser dividida em 1961, primeiro com trincheiras e depois com muros. Sua queda ocorreu apenas em 89, e alguns pedaços do muro foram levados para diversas cidades e até mesmo outros países.
Podemos achar alguns trechos aqui e acolá por Berlim (como, por exemplo, na Postdamer Platz), mas vou citar aqui dois trechos que podemos ver um longo trecho de muro: a East Side Gallery (a parte “divertida”) e a Bernauer Strasse (a parte dura) e vou começar por essa última.
O Muro na Bernauer Strasse
Se você realmente quer saber como havia sido feita a divisão, precisa ir nessa rua. Aqui deixaram alguns metros de muro cru, sem grafites, como era naquela época. Podemos visitar o Memorial do Muro (Gedenkstätte Berliner Mauer) e, ao subir na plataforma, vemos como era o muro, ou melhor, os dois muros, com a faixa da morte no centro.
Esse memorial continua ao longo dessa rua. Nos edifícios, fotos imensas retratando aquele período, no chão, indicações de túneis de fuga, uma casa e uma igreja destruídas. Na calçada, nome de pessoas que faleceram ao tentar pular o muro. Nada aqui é divertido, nada aqui é legal. Meu filho voltou para a casa com raiva de quem fez o muro.
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Memorial do Muro de Berlim e a Bernauer Straße
O Muro na East Side Gallery
Esse é o trecho famoso, que sai nas revistas no qual todo mundo visita. É o trecho animado, divertido, cheio de bares, discotecas, caminhos gostosos que costeiam o rio Spree. O muro aqui é colorido, cheio de grafites que retratam a dureza daquela época, mas que hoje é Instagramável. Veja, não estou criticando, é bonito, em seus grafites encontramos críticas, mas imagino que um alemão que sofreu com a guerra fria deva odiar toda aquela animação. Tudo aqui é divertido, tudo aqui é legal e colorido. Meu filho voltou para a casa agradecendo quem fez o muro (sério, não estou brincando!).
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Circulando pela East Side Gallery
Checkpoint Charlie
Pensem na situação: a Berlim americana estava dentro da região soviética, fechada parte por muros, parte por trincheiras. Para cruzar o território era necessário passar por postos de controle, os chamados Checkpoints. Haviam 3 principais pela Alemanha: o Checkpoint Alpha, Checkpoint Bravo e por fim, Checkpoint Charlie, este presente no centro da cidade, na Friedrichstraße.
Hoje, o Checkpoint Charlie é uma das atrações turísticas da cidade. É curioso ver que, do lado americano, a gigante McDonalds decidiu abrir sua lanchonete, mas aqui você poderá tirar foto com um “posto de controle” inserido para a fotografia (o original se encontra no Museu dos Aliados, no Dahlem, nas redondezas da Freie Universität), ver as placas de “você está saindo” ou “você está entrando” em território americano. Mas o interessante são os museus ao redor que explicam esse período da história e os cartazes com fotos.
Teufelsberg (Montanha do Diabo)
Lá em cima falei sobre o Memorial da Plataforma 17 em Grunewald, no caminho para Potsdam. No entanto, se você visitar a cidade no verão, que tal se “embrenhar” em Grunewald e visitar Teufelsberg, montanha do diabo em alemão, uma colina artificial feita com escombros da 2° guerra e aterrada para esconder uma escola técnica militar construída pelos nazistas e que, de tão resistente, não conseguiram implodi-la. Mas está aterrada e não conseguimos visitá-la, mas em cima dessa colina é possível ver uma construção estranha, uma antiga estação da NSA (a Agência de Segurança Nacional americana) que funcionava como radar de espionagem americana contra os soviéticos. Somente em 2018, após anos de abandono, virou patrimônio cultural (Denkmalschutz) graças a sua importância histórica.
Foto de: “©Neumann via Canva.com e Sinousxl”
Crossover das marcas de guerra
Sim, tem um lugar no centro de Berlim que podemos, ao mesmo tempo, ver a Segunda Guerra e a Guerra Fria. Estou falando do Topografia do Terror, um espaço onde, em um passado, era a Gestapo (a polícia secreta nazistas) e hoje expõe, mediante imensos painéis, documentos e fotos de todo o terror que o nazismo instaurou na Europa. Do lado de fora ainda conseguimos ver ruínas do prédio da Gestapo.
Do outro lado da rua é possível ver o prédio da Luftwaffe (Força Aérea nazista), que sobreviveu à guerra e hoje é o prédio do ministério das finanças e bem ao lado, também intacto, o belo prédio do Museu de arte contemporânea, Gropius Bau. Este, por estar ao lado da Gestapo, serviu de proteção aos aliados na tentativa de ataque contra o prédio da Gestapo (e com isso, vemos muitas marcas de bala por toda a parede).
E para fazer sentido ao meu “crossover”, bem aqui, entre onde era a Gestapo e onde era a Luftwaffe, temos um grande trecho do muro de Berlim ainda intacto.
A questão urbanística também é uma marca de guerra
Bom, mostrei acima algumas das marcas e cicatrizes que a Guerra Fria deixou por Berlim, mas caminhar pelos dois lados (o que era oriental e ocidental) e observar a arquitetura dos prédios também é uma forma de ver como essa divisão modificou a cidade. Lembrando-se que a 2° guerra mundial destruiu a cidade, então a cidade precisava ser reconstruída. A cidade continua em reconstrução, no mirante da Torre de Tv é possível ver que ainda há grandes canteiros de obra no centro, mas longe do muro, a cidade foi reconstruída.
Potsdamer Platz
Esse bairro está bem perto do Portão de Brandeburgo e do Tiergarten, mas caminhando por suas ruas largas e seus prédios modernos, altos e espelhados é possível entender que essa região sofreu muitos com as duas guerras; praticamente nada sobrou e, como o muro passava por ali, durante a guerra fria pouco se fez.
Há apenas duas construções que sobreviveram à guerra. Uma é uma antiga loja de vinho, a Haus Huth, que havia feito seu prédio com paredes reforçadas e outra é uma parte muito chic do antigo hotel Esplanade e que hoje conseguimos ver apenas algumas partes dentro do Das Center am Potsdamer Platz (antigo Sony Center).
Foto de: “©Nikada via Canva.com”
A AlexanderPlatz, Torre de TV e grandiosa Karl-Marx-Allee
A Torre de TV, símbolo de Berlim, foi também símbolo da modernidade soviética (teve até polêmica – rs); ao redor, prédios retangulares imensos com comércio embaixo e residência em cima (pelo menos é o que nos pareceu e que nos fez lembrar dos prédios residenciais de Niemeyer aqui no centro); na sequência passamos por AlexanderPlatz, com seus shoppings e lojas de departamentos e mais adiante, a monumental Karl-Marx-Allee.
Uma avenida larguíssima (daquelas com um canteiro verde central dividindo 6 pistas) repleta de prédios residenciais que, olhando de fora, parecem imensos. A rua é muito larga, assim como suas calçadas, que parecem parques dividindo a entrada das casas e a rua. Era nela que aconteciam os desfiles militares soviéticos.
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Visitando a Torre de Tv
Ku’damm: O centro ocidental capitalista
Se o centro de Berlim acabou ficando com a URSS, os EUA decidiram criar o seu centro comercial na rua Kurfürstendamm (a Ku’damm) e arredores, com muitas lojas de departamento (como a elegante KaDeWe);
Na nossa primeira estada, ficamos perto da universidade Freie, na parte ocidental, mas como ficava distante desse centrinho, circulei por aqui poucas vezes, então não consigo falar muito sobre ela, mas caminhe pelas redondezas da Alex’ e depois pela Ku’damm. Nem preciso descrever, ao bater os olhos é fácil compreender.
E com isso termino meu longuíssimo texto com várias marcas da Segunda Guerra Mundial por Berlim e também as marcas deixadas pela Guerra Fria.
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Eu sou completamente apaixonada por Berlim! E apesar de tristes, acho legal ver ainda hoje um monte de marcas das guerras pela cidade – é a História viva na nossa frente! (e isso só me fez voltar de lá ainda mais apaixonada por História rs)
Pois é. Essa é a nossa 2°vez em Berlim e cada visita é uma nova percepção!
Nossa… não imaginava que ao caminhar pelo bairro central de Berlim era possível ver essas marcas da guerra. Não acredito que caminhei por lá e não parei para reparar nisso. Parabéns pelo artigo
Sim, por todo canto tem alguma cicatriz!
🙁
Berlim é uma cidade sensacional em todos os aspectos né? Impressionante conseguir ver ainda hoje essas marcas de guerra. Obrigada por compartilhar
Sim, eu acho sensacional isso, por mais chocante que possa ser para nós!
Muito interessante e necessário o seu post sobre as marcas da guerra em Berlim. Achei muito importante seu cuidado em falar sobre estas marcas com seu filho. Ótima publicação!
Fizemos isso com cuidado, por conta da idade dele, mas vimos que a recepção foi boa e hoje ele vê Hitler como o diabo em pessoa!