A páscoa no sul da Itália [Basilicata]

páscoa na Itália

Seguindo a proposta da Analuiza do blog EPM, escrevo mais um relato das coisas curiosas que me aconteceram em viagens e desta vez contarei como foi a minha páscoa na Itália, mais precisamente na Basilicata, sul da velha bota.

Se você leu meu relato sobre o dia que sem querer eu vi o papa, sabe que eu não sou religiosa e festas, como Natal e Páscoa, são meros feriados em minha vida.
😉

Bom, em 2008 passei um bom tempo na Itália e, na semana da Páscoa, eu estava na Basilicata. Estava uma minúscula cidade lucana chamada Rionero in Vulture, marcada pela belíssima paisagem do vulcão extinto Vulture.
Na verdade eu morava em algo que eles chamavam “casa di campagna“, pois como é possível ver na foto, eu não estava na cidade.

Foto da varanda de meu quarto; Ao fundo o vulcão e a cidade

Curiosamente, eu estava hospedada na casa de uma família super católica, que ia todo o final de semana para a igreja, participava de encontros semanais e, claro, se empenhava em encontros de família.  Num desses, cheguei inclusive a participar de um jantar promovido em uma das 4 paróquias da cidade para receber o bispo [ou seria o arcebispo??? Boh!]! E na ocasião, ele se sentou na minha frente e puxou papo! rsrsrsrs).

As datas da páscoa na Itália

Outra coisa que diverge são as datas de feriado.
No Brasil, a páscoa começa na sexta feira (chamada de Santa). Na Itália, esse dia não é feriado e, portanto, é um dia útil de trabalho.
No entanto, a segunda feira (chamada de Pasquetta ou Segunda-feira do Anjo) é o dia que a família sai de casa para fazer picnic ou, se estiver frio, ter um bom almoço em família (que foi o caso)!

A minha páscoa na Itália: a Via Crucis

a procissão começando a chegar

Mas voltando com a minha falta de conhecimento em religião, me lembro a cara de indignação que o André, o menino mais velho do meu casal de amigos, fez quando eu disse que eu não sabia o que era Via Crucis (sim, eu não sabia!).

Passada a indignação, ele me disse que a tal procissão iria acontecer na cidade e que eu tinha que ver.  O fato de não ser religiosa não significa que eu vire a cara para tudo o que tenha a ver com religião. O André me explicou e, claro, fiquei curiosa!

O ruim é que naquela semana havia chovido muito e fazia frio. Sexta feira ocorreu a Via Crucis da cidade vizinha e não deu para participar tamanha era a chuva, mas, naquele sábado, debaixo de garoa, fomos.

A procissão iria acontecer logo cedo e, não saímos no horário. Meu amigo Eduardo (pai do André), telefonou para alguém que lhe disse: “Vá até a praça principal. Ali ocorrerá a 3° queda de Cristo. Daqui a pouco também chegamos lá!”

Bom, e para lá fomos.

O local estava lotado, escolhemos um canto vazio e ficamos. Muita gente estava ali aguardando o povero Cristo cair pela 3° vez e, naquela garoinha fraca de primavera, ficamos aguardando.

Eu, sinceramente, não tinha noção do que eu iria ver e quando o pessoal começou a aparecer na ruazinha, todos caracterizados, fiquei de boca aberta!
Se eu estivesse em um trecho com pouca ou nenhuma gente, iria achar que tinha voltado ao tempo!

O legal é que eu tinha uma “tecla SAP” em carne e osso ao meu lado! hehehehe
O Dé me explicava sobre a Via Crucis (também chamada de Via Dolorosa) e quem era quem na encenação e no meio da narração, percebemos pela agitação da galera que o Cristo estava chegando!

olha a queda na minha frente!!!!!!!

O cara caminhava vestido de Cristo, descalço naquela friaca, carregando uma cruz preta nas costas! E eu, além de ter visto o papa e de ter jantado na frente do bispo, tive a sorte de estar bem em frente ao local onde o falso Jesus caiu!

Confesso que fiquei de boca aberta com todas as encenações de alguns dos personagens antes de levantarem o Cristo!

Na sequência ainda passou a Maria, chorando ao lado da Madalena e do João Batista, além de muitas outras crianças e mulheres de preto.

Eu continuava de boca aberta pelo o que eu estava vendo, quando o Dé chega em mim e diz: “Vamos para o carro pegar um local bom para ver a crucificação!”

Arregalei os olhos e disse: “Vai ter crucificação?”
(Do jeito que a galera incorporou os personagens, não me espantaria se o rapaz não acabasse sendo crucificado de verdade – hahahahaha).

A crucificação ocorreu em um terreno imenso ao lado do hotel San Marco, que pertencia à uns amigos nossos (Não sei se a hospedagem é boa, mas o restaurante é ótimo).

Fomos uns dos primeiros a chegar e ali ficamos.
Em pouco tempo o pessoal chegou. Começaram a levantar as cruzes e os personagens foram se preparando para seus locais. O que perdeu a graça foi a quantidade de fotógrafos e cinegrafistas presentes no local. Se eles não estivessem ali, eu iria realmente temer pela vida daqueles atores!

Conversando com moradores do local, descobri que as inscrições para participar desta procissão ocorrem quase que um ano antes e, normalmente, tem briga pelos personagens mais importante.

Uma outra curiosidade é que eles escolhem 3 Cristos. Um para cada queda e um deles será o Cristo crucificado!

Naquele ano, um dos rapazes que iria ser crucificado passou mal e foi parar no hospital. Depois descobrimos que ele teve hipotermia (estava frio e ele fez todo o percurso descalço e com pouca roupa!!!!).

Eu estava em uma cidade pequena, com 13 mil habitantes e o negócio foi emocionante. Fico imaginando como deve ser a via crucis de cidades como Roma e até mesmo a curiosíssima cidade de Matera (para quem não sabe, foi no distrito de Sassi que Mel Gibson filmou o polêmico “A Paixão de Cristo”). Se você estiver durante a páscoa na Itália, corra para ver onde vai ter a Via Crucis mais próxima!

A cidade cinematográfica de Matera

A minha páscoa na Itália: a festa em família

Um dia escreverei sobre almoços de “festas” na Itália! É algo delicioso e apavorante (rs – imaginem-se em um almoço que pode durar mais de 5 horas?!). E o almoço de páscoa foi neste estilo!

Tem um provérbio italiano que diz: “Natale com i tuoi e Pasqua com chi vuoi” (algo como Natal com a família e páscoa com quem você quiser). No entanto, diria que isso é bem falso! Principalmente para quem tem família no Sul e mora no Norte.
As cidades de repente lotam! Todos voltam para se encontrar com a família para festejar!

Como o tempo não estava bom, não rolou picnic e, por isso, tivemos um almoço em família. Fomos convidados para almoçar na casa da família Vaccaro e ali vivi minha última experiência exagerada dos italianos.

Pelo o que eu entendi, o almoço italiano de páscoa sempre terá carne de cordeiro e coelho. Pelo menos essa é a tradição daquela região. O problema é que os italianos não colocam tudo na mesa e cada um pega o que quer na quantidade desejada.

Existe uma ordem e ela deve ser cumprida (exato! E nem sonhe em querer pular ou negar)!

A refeição é dividida em pratos. São 4 no total: antipasto; 1° piatto: 2° piatto; contorno; além do dolce, frutta, liquore e caffè.

Primeiro você receberá o antepasto.
Naquele almoço, a Dna. Irene nos serviu diversos tipos de frios crus (tipo, salame, presunto e copa), além da famosa e deliciosa mozzarela. Em alguns almoços, bolinhos fritos e legumes podem fazer parte.

Depois que você devorou o antepasto, vem o 1° prato, que consiste em uma massa, um risoto ou uma sopa.

E para quem não sabe….. o italiano é sempre exagerado e, em todas as festas que fui, me serviram 2 tipos de 1° prato (não era escolha! rs).

Là, a Irene nos serviu uma lasanha com polpette (e que não estava boa) e um ravióli recheado com algum tipo de peixe.

Para minha tristeza, ela pegava o meu prato e me servia! Rejeitar é falta de educação, então……. não dá para fugir.

Chegou o momento esperado: O 2° prato, que consiste em carne (de qualquer animal). Para manter a tradição, eles nos serviram dois 2° pratos: primeiro cordeiro e depois o coelho.

Eu estava tão cheia que a última coisa que eu queria ver era o café e a grappa final. Mas ainda tinha o contorno! E para minha sorte, de contorno ela fez salada (Aeeeee!!!!!!!!) e batata fritas.

O bom da salada é que ela é super leve e é digestiva! E serei sincera: depois dessa minha passagem pela Itália, comecei a deixar a salada para o final também. Faz sentido!

Assim que o contorno acabou, Dna. Irene tirou os pratos da mesa e nos serviu a sobremesa: um pedaço de fruta, que eles chamam de fruta da época (rs) e um pedaço de bolo (esse eu consegui rejeitar).

E finalmente, chegou aperitivo (que pode ser uma grappa ou um limoncello) e o café!

Ufa!

E antes de vocês me perguntarem: Mas o italiano é gordo???? Bom! Eles não comem assim todos os dias!

Mas darei um conselho: NUNCA REPITA, EM HIPÓTESE ALGUMA, ALGUM DOS PRATOS! VOCÊ PODE SE ARREPENDER!

😉

Mas e ovo de páscoa? Eles também têm?

Sim!!!!! Tem!

Bom, acho que no Brasil é um pouco assim (há anos que me nego a comprar um ovo de páscoa que não seja caseiro), mas o costume imenso na Itália é a “venda-casada”.

Você compra um ovo que terá dentro uma surpresa. Pode ser algum brinquedinho bobo (eu ganhei um ovo da Caffarel que vinha um bonequinho) ou algo caro!

Tem marca que divide entre ovos para meninas ou garotas e meninos e garotos. Um dos ovos que os meninos daquela família ganharam tinha um óculos de uma marca esportiva e o outro ganhou uma cinta!

Eles também ganharam ovos com pista e carrinho Hot Wheels!!!!!

Eu sempre acho tudo isso um absurdo! E foi difícil achar um ovo que me desse de presente bombonzinho!

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About Juliana (www.turistando.in)

Mãe do Léo, professora de italiano e apaixonada pelas maravilhas do mundo.

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