Jà tem um tempo que eu desejava visitar a Pinacoteca di Brera. Um dos textos do livro de cultura italiana Magari fala sobre este museu e, desde então, o coloquei na lista. Mostrei os destaques para os “meninos” aqui em casa e meu pequeno ficou encantado com a possibilidade de ver pessoalmente o quadro que emoldura seu caderninho de viagem (o Bacio).
No entanto, quando comento com alunos, me espanto ao descobrir que a maioria nunca ouviu falar desta Pinacoteca. Por isso, para essa blogagem coletiva 8on8 dedicada ao Musem Week de 2024 (que ocorre entre os dias 3 a 9 de junho), escolhi a Brera, que foi o melhor museu que visitamos nesses últimos 4 meses aqui na Itália.
Um pouco sobre a Pinacoteca di Brera
A Pinacoteca di Brera, situada no coração de Milão, é um dos mais importantes museus de arte da Itália e do mundo. Presente no complexo do Palazzo Brera, com mais de 24.000 m2. Para esse museu, temos 2 nomes importantes:
- o primeiro é a Imperatriz Maria Teresa da Áustria, que não fundou diretamente a Pinacoteca di Brera, mas suas reformas educacionais e a fundação da Academia de Belas Artes de Brera foram fundamentais para a fundação da Pinacoteca.
- Outro nome que não podemos deixar de lado é a de Napoleão Bonaparte, que utilizou o espaço para “expor as pinturas mais significativas de todos os territórios conquistados pelos exércitos franceses.
“Brera, ao contrário de outros grandes museus italianos, como o Uffizi, por exemplo, não nasceu da coleção privada de príncipes e da aristocracia, mas da coleção política e estatal” (frase presente no site da Pinacoteca).
A coleção da Pinacoteca de Brera
Esse espaço abriga uma coleção impressionante de pinturas, esculturas e desenhos de diversas escolas e períodos, mas o estilo de arte predominante na Pinacoteca di Brera é a pintura italiana dos séculos XIV ao XX, com destaque para as escolas veneta e lombarda.
Entre os artistas mais célebres presentes na coleção, estão Veronese, Tintoretto, Mantegna, Piero dela Francesca, Bellini, Raphael, Caravaggio e Hayez.
Além da pintura, a Pinacoteca também possui um acervo significativo de esculturas (destaque para Canova), desenhos e gravuras.
Meus 8 destaques na Pinacoteca di Brera
Escolher 8 obras para destacar neste 8on8 não foi fácil. Sim, eu teria escolhido muito mais. A própria Brera seleciona 10 capolavori que vocês podem visualizar neste mapa interativo – em italiano, espanhol e inglês. Para cada destaque, um audioguia.
#1: Cristo Morto de Mantegna
O destaque da sala 6 é o “Cristo Morto” (c. 1480) de Andrea Mantegna, uma das obras presentes lá no livro Magari (hehehehe).
É uma obra-prima do Renascimento italiano que desafia as convenções artísticas daquela época. A pintura retrata Cristo morto em uma posição dramática, deitado em um túmulo de mármore, com uma perspectiva monumental (usando o adjetivo que o Magari usou), que enfatiza os pés e as mãos perfuradas. A riqueza de detalhes, a expressividade, assim como a cor da figura de Cristo e principalmente com a profundidade de sua posição, nos coloca em uma posição quase voyeurista.
#2 Pregação de São Marcos em Alexandria de Bellini
Essa obra eu não a conhecia e é uma das mais importantes em Brera. Quando entrei na sala 8 me espantei com seu tamanho, que cobre uma inteira parede (mede 347 x 770 cm).
A obra do veneziano Bellini retrata uma cena vibrante e detalhada da pregação de São Marcos, o evangelista, em uma praça movimentada de Alexandria, no Egito. A composição é cheia de vida, com uma multidão diversificada de figuras ouvindo e até mesmo observando atentamente a pregação do santo.
#3 Napoleão como Marte Pacificador de Canova
Assim que entramos em Brera, vemos ao fundo uma estátua colossal, mas como decidimos seguir as salas por ordem, tivemos que rodar 14 salas até chegar aqui.
“Napoleão como Marte pacificador” (1806) de Antonio Canova é uma escultura monumental que representa Napoleão Bonaparte nu, como Marte, o deus romano da guerra. A escultura de Canova (o mesmo de Eros e Psique, presente no Louvre) é caracterizada por sua grandiosidade e realismo, capturando a grandiosidade e o poder de Napoleão, esculpindo-o em uma pose clássica e heroica. A obra original se encontra no pátio de Brera e é considerada uma obra-prima do neoclassicismo.
Seguimos adiante, encontramos um belo Tintoretto, um Picasso perdido, mas minhas próximas 3 imagens para este post estão na sala 24 com destaque para 3 artistas que foram direta ou indiretamente influenciados por Federico da Montefeltro, o Duque de Urbino.
#4 Pala de Brera de Piero della Francesca
Gosto de Piero della Francesca, um dos maiores pintores do Renascimento italiano, que trabalhou por anos na corte de Federico di Montefeltro, duca de Urbino (também presente em algumas das minhas aulas de cultura italiana).
Essa pintura retrata a Virgem Maria com o Menino Jesus e santos, destaca-se pela sua simetria, uso da perspectiva e a serenidade das figuras. O ovo de avestruz pendurado acima da Madonna simboliza a pureza e a imaculada concepção. O que mais me divertiu é ter visto em cena o próprio Federico, como sempre, de perfil (esse homem devia ser muito feio de frente).
#5 Casamento da Virgem de Rafael Sanzio
Não fiz foto, apenas vídeo e não ficou legal o fotograma. Isso me dará a possibilidade de colocar uma outro quadro queridinho (veja o quadro aqui).
Na outra parede dessa mesma sala, encontramos uma obra do Raffaello Sanzio, um dos maiores pintores do Renascimento (nascido em Urbino, cidade de Federico da Montefeltro, o homem feio do quadro de cima).
O quadro em questão é o “Casamento da Virgem” (1504), uma obra-prima que celebra a união de Maria e José.
Raffaello utiliza uma composição equilibrada e uma perspectiva arquitetônica harmoniosa, com cores vibrantes. A serenidade das figuras e a harmonia das cores fazem desta pintura uma das mais belas representações do casamento sagrado.
#6 Cristo alla Colonna de Bramante
Esse é outro quadro que apareceu nas aulas do livro Magari. Bramante, que descobri agora ter nascido em Urbino, foi um dos arquitetos e pintores mais influentes da Renascença italiana. O primeiro projeto da Basílica de São Pedro é seu, assim como a arquitetura da Santa Maria delle Grazie, famosa por abrigar a “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci.
Em Brera há uma sala imensa (a 10°) com muitos quadros seus, todos interessantes. Mas o que mais me agradou foi o “Cristo alla Colonna”, talvez porque sua técnica me faz lembrar muito da Vinci. Bramante retrata Cristo amarrado a uma coluna, prestes a ser flagelado, com uma expressão de sofrimento e tensão em seu corpo. No entanto, ao fundo há uma janela que mostra uma paisagem rica e florescente, usando a mesma técnica que vemos na Gioconda.
#7 San Marco visto da Punta Dogana de Canaletto
Acho que todo mundo que ama viagem e fotografia acaba admirando as obras de Canaletto, com a diferença que, se hoje tiramos em 3 segundos uma foto sem olhar direito o lugar, Canaletto ficou dias para fazer a “sua fotografia”.
Eu não sei quando foi que comecei a gostar se suas obras, mas cada vez que descubro um museu com uma obra sua, lá vou eu apreciá-la.
Esse quadro é uma foto antiga de San Marco visto ali da Punta Dogana, do outro lado do Canal Grande. A precisão e o jogo de luz tornam esta obra um testemunho visual da Veneza do século XVIII.
#8 O Beijo de Francesco Hayez
Esse é o quadro que faz todo mundo entrar na Pinacoteca de Brera (bom, no meu caro, foi a foto da capa deste post) e, claro, é a obra mais difícil de ser apreciada. Não chega a ser como a Monalisa, mas a gente precisa de um tempinho pra conseguir uma vaguinha na frente dela.
Il Bacio é uma das pinturas mais românticas da arte italiana. Retrata dois amantes se beijando apaixonadamente. Não vemos seus rostos, mas, mesmo assim, o quadro é carregado de emoção e com suas ricas cores, ele consegue transmitir a intensidade do amor e do desejo do casal.
Bônus: #9 Cena in Emmaus de Caravaggio (1606)
Diferente de outros pintores e escultores, eu me lembro de meu primeiro Caravaggio. Foi paixão à primeira vista. Escrevi rapidamente aqui, mas um dia farei um post melhor, contando toda emoção que senti. Desde então, caço por onde vou, um dos poucos quadros de Caravaggio que sobreviveu. Em Milão existem dois e a Cena in Emmaus é uma delas.
Cena em Emmaus é uma das interpretações mais intensas e dramáticas do momento em que Cristo, após sua ressurreição, revela sua identidade aos discípulos em Emmaus. Caravaggio usa a técnica do chiaroscuro para criar um contraste poderoso entre luz e sombra, destacando a surpresa e a revelação espiritual da cena. A versão da Brera é particularmente notável por sua composição intimista e detalhamento emocional.
Ps: Caravaggio realizou duas Cena em Emmaus. A outra se encontra na National Gallery de Londres (este quadro aqui).
Mais fotinhos 8on8
Gostou? Fazia muito tempo que eu não participava de uma blogagem coletiva e fiquei feliz quando as meninas escolheram esse tema pro projeto 8on8.
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Ainda não estive em Milão e adoraria conhecer a Pinacoteca di Brera. Interessante este “parágrafo” da história das conquistas do período napoleônico!
Vale a pena
😉
Blogs de viagem inspiram e informam, este post me convenceu a visitar a Pinacoteca de Brera. Parabéns pelo post gostoso de ler, informativo e ilustrado!
😉
Que bom, Mà!
Estive em Milão por duas vezes e não fui conhecer a Pinacoteca di Brera. Confesso que não sabia de suas importantes obras e como não tive muito tempo para conhecer tantas atrações da cidade e arredores, acabei por deixar esta pinacoteca de fora da programação. Pretendo reparar este erro num futuro próximo. Obrigada pela dica. bjs
Coloquei apenas essas por serem obras dos artistas que mais me agradam, mas tem muito mais coisa! Vale a pena sim!
Passei em frente à Pinacoteca di Brera em Milão em minha segunda visita à cidade, e mais uma vez não entrei para conhecer este importante museu.
Na próxima não me escapará, porque gostei muito do que vi aqui, espero muito ter esta oportunidade, Ju. Beijo.
Uma coisa boa: é grátis nos primeiros domingos do mês!
hehehehe
Eu também não conhecia a Pinacoteca di Brera em Milão!
Quantas obras marcantes! E olha que passei duas semanas uma vez fazendo um curso de verão e rodei bastante pela cidade. Já tenho um bom motivo para voltar. Rs
A gente sempre tem algum motivo pra voltar, né?
😉